A the hidden mag explora comportamento, arte e moda de forma autêntica. como você enxerga o papel da contracultura dentro desse novo cenário da moda e da comunicação?
Acredito que as contraculturas são movimentos socioculturais intimamente ligados à moda e talvez um dos principais meios de expressão e diferenciação dos grupos envolvidos. A comunicação também não fica para trás: muitos movimentos contraculturais usavam (e ainda usam) diversos recursos para se comunicarem entre si, como pôsteres, zines e panfletos. Enxergo hoje um movimento de resgate de alguns desses elementos.
No cenário da moda especificamente, vejo os movimentos contraculturais como forças criativas autênticas que nascem fora do sistema mais tradicional, mas que acabaram redefinindo vários de seus conceitos.
Sinto que, nos últimos anos, há um resgate ao vintage, ao analógico e ao “offline”. Vinis e câmeras analógicas encontraram uma segunda chance no mercado atual, e acredito que o mesmo esteja acontecendo com as revistas, talvez não apenas pela nostalgia, mas por uma busca por atividades fora do ambiente online, que sejam prazerosas e ofereçam um conteúdo mais denso e profundo.
A hunch e a noise propaganda compartilham uma essência urbana, crua e real. como o cotidiano das ruas e das pessoas inspira suas criações e decisões criativas?
Minha maior inspiração para a Hunch vem dos meus gostos pessoais — alguns adquiridos na infância, quando me lembro de assistir a filmes com Stallone, Van Damme e Tom Cruise. Acredito que isso tenha moldado meu gosto pela estética militar, utilitarista e pelas artes marciais.
Na adolescência, tive meu primeiro contato com a arte ainda na escola, ao ler livros que apresentavam obras de Roy Lichtenstein e grafites. Nessa mesma época, entrei em contato com o mundo dos sneakers por meio de amigos e, principalmente, do meu pai, que usava os clássicos Mizuno Wave e tênis da Reef.
Acho que foi a partir daí que comecei a afinar meu olhar para a rua: pichos, tags, bombs, placas, mascotes... Passei a reparar no estilo das pessoas, quais tênis usavam, quais marcas, lembro de observar muitas camisas de time, camisas de de banda e estampas. Como sempre fui muito curioso, comecei a pesquisar mais, e de alguma forma cheguei ao skate, ao rap e à arte de rua, que aos poucos me levaram ao streetwear, às colagens, aos lambes e, finalmente, à minha profissão como diretor criativo e designer de produtos.
Eu diria que a cultura popular, o design vernacular, a arte e a cultura latino-americana — todos de alguma forma vindos da rua — são os fatores que guiam minhas criações e formaram em mim uma noção estética.
No seu olhar de curador e editor, o que separa uma marca comum de uma que realmente comunica algo — que tem discurso, identidade e alma?
Tento ao máximo apurar meu olhar e enxergar além da “superfície”. Busco identificar o sentimento, a história que está sendo contada, as referências abordadas e triangulo isso com a capacidade técnica de execução e com minhas noções de mercado (quando o projeto é um produto ou uma marca). Isso vale tanto para projetos artísticos quanto para marcas.
Especificamente sobre marcas, acredito que as questões mercadológicas e de branding sejam decisivas. Entendo que uma “marca comum” é genérica, não sabe com quem exatamente está se comunicando, não tem um posicionamento nem uma estética definidos, e muitas vezes falha na execução técnica de estampas, produtos e identidade visual.
Já as “marcas que comunicam” são aquelas que sabem quem são e onde estão posicionadas. São assertivas em suas entregas, estética e produtos. Comunicando-se com seu público de forma direta e com o mínimo de ruído possível, elas costumam ter um diretor criativo ou uma equipe cujo lifestyle se alinha ao da marca, o que traz veracidade e consistência ao projeto.
O streetwear nasceu como resistência e virou tendência. como manter o propósito e o “barulho verdadeiro” no meio desse ruído de mercado?
Sinto que, nos últimos anos, o termo streetwear sofreu um esvaziamento semântico, perdendo quase que totalmente seu significado. Quando tudo é streetwear, nada é de fato. Muitas marcas, designers e pessoas públicas se apropriaram desse termo — seja por estratégia comercial ou por hype —, e as coisas ficaram bem confusas.
Hoje, por diversos motivos, percebo um movimento de separação dos mercados e a cristalização de nichos mais específicos. Posso citar como exemplo marcas como Corteiz e Survival, que representam o “novo streetwear”, e outras como Carnan e Welcome Rio, que vem se distanciando desse mercado e focando em entregas cada vez mais voltadas ao setor lifestyle/casual.
Acredito que essa separação dará ao mercado um respiro e ao streetwear a oportunidade de regredir e se desenvolver de uma forma diferente — talvez resgatando um pouco mais de suas raízes, mas com toda certeza jamais ira voltar a ser o que foi um dia.
No fim, acredito que todas essas marcas têm suas verdades e seus valores, e que existe espaço para a coexistência de todas elas no mercado.a noise acredita que cada peça carrega processo, conceito e verdade. o que é verdade pra você hoje — na moda, na arte e na vida?
Acredito que minha noção de verdade em relação a um produto ou a uma marca está muito atrelada às minhas noções de branding. Quando vejo, por exemplo, uma t-shirt da Noise, consigo ter um vislumbre da marca como um todo, sua história, posicionamento e identidade.
Acho que a verdade está no resultado da síntese de diversos fatores em um único produto, pois só é possível criar algo com “verdade” se você realmente vive aquilo e tem consistência na suas entregas.
Fotos: HIKE @yourfavhike
Para conhecer melhor os trabalhos do Marcos
Marcos Mendonça
The Hidden
Hunch
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